Me revirei na minha tumba!

Garotos e garotas da laje,

Estou psicografando este post para declarar que ando com saudade de vocês. E também para denunciar que, aqui no Além, as coisas não andam tão tranquilas (ah, o saudoso trema dos meus tempos!) como eu esperava. Muitos têm sido os esforços terrenais para que eu me sacuda toda aqui na minha tumba: é Galliano bêbado protagonizando momentos de agonia social, é a Zara envolvida em escândalos de escravidão de imigrante ilegal, é a Victoria’s Secret fabricando algodão orgânico à base de sangue infantil na África, é coquetel molotov de Versace e H&M, é Karlinho Lagerfeld se rendendo ao low cost, são blogueiras que de repente se elevam à categoria de missionárias cuja nobre missão é evangelizar o “povão” sobre as delícias dos esmaltinhos Chanel, é um ministro caindo por dia. É muito escândalo, minha gente! E mesmo assim me mantive aqui, quietinha e quentinha.

Até que começaram a me cutucar com a existência de uma tal de Blogueira Shame. Na primeira vez em que entrei no blog, me assustei com um post no que ela “denunciava” uma blogueira que alisava o cabelo da filha pequena. Alisar cabelo de criança é uma tragédia, todos sabemos. No entanto, tudo pode ser dito civilizadamente, com bons argumentos. Com cuidado. Mas não. O que vi ali foi um verdadeiro escárnio com essa mãe, num julgamento exacerbado de pessoas descontroladas que chegavam a dizer que iam fazer um abaixo-assinado para denunciá-la ante o Conselho Tutelar. Sim, eles afirmavam que ela deveria perder a guarda da filha. Questionavam como pessoas dessa índole “podiam botar filhos no mundo”. E como se tudo isso fosse pouco, acusavam-na de ser racista com a própria filha. Acusação de racismo é coisa séria.

A mãe, kafkianamente, se submetia àquilo tudo. Reconhecia explicitamente o seu erro, explicava a sua postura, chegava a agradecer as críticas e a comprometer-se a nunca mais alisar o cabelo da filha. O sabor que ficou na minha boca? Que aquelas pessoas ensandecidas demonstravam se preocupar muito pouco com a criança. O que elas queriam era sangue. Escárnio. Mofa. Humilhação.

Também vi outro post no que humilhavam, com o mesmo tom, uma blogueira que “escrevia errado”: afirmavam que pessoas que “não sabem escrever” não podem ter blogs e milhares de outros impropérios que prefiro nem citar. Zombaria pouca era bobagem. Aquilo era pura perseguição mesmo. Perseguição, outra vez, vazia, preconceituosa e repleta de intolerância. A blogueira, uma menina bem novinha aliás, que afirmava que seu blog era apenas um passatempo, esclareceu que era disléxica e que havia pensado em abandonar o blog. Comprometeu-se a usar o word antes de publicar os seus textos, vejam só vocês, e a tratar-se com um profissional especializado.

Digam-me sinceramente: vocês conseguem admirar essas “vitórias” da Blogueira Shame e de suas adeptas? Chanelzinha aqui não. Não aprovo as formas. Não aprovo os métodos. Eu sou rata de internet desde 1996, meus caros, e sei que aqui tem público para tudo. Para todos os gostos, mesmo. Pensei: elas que são gladiadoras selvagens, que se matem na sua areninha virtual. Entre feras e feridos, as pessoas que passam por maus bocados naquele blog invariavelmente sobreviverão. Voltei a me ocupar com os meus afazeres aqui no além, tipo tomar chazinho com a Coco ou ir para a night com Loulou e Yves.

Para mim, não é nenhuma novidade que na blogosfera de moda tenha muita gente espertinha e mal-intencionada. Só que usar esse fato como bandeira ou pretexto para fazer chacota das roupas dos outros, das suas características físicas e da sua condição social é, no mínimo, coisa de gente da mais baixa categoria. Não posso pensar na existência de um argumento que justifique um negócio desses. A própria Coco, que curtia um nazista gostoso, concorda comigo.

Criticar roupa? É claro que eu critico os modelitos dos meus desafetos – e eles não são poucos – com as minhas amigas. Não sou santa, vocês sabem. A diferença é que eu falo baixinho, assim discretamente, para ninguém escutar. Seguindo as pautas de discrição e de boa conduta social que mamãe e papai ensinaram. Agora, rir das características físicas dos outros? Chamar de gordo, de magro, desmerecer alguém por causa de cabelo? Porque escreve “errado”? Se preocupar com as cutículas alheias? Com as cutículas, sério? Tratar uma espinha na testa dos outros como se fosse detonante de guerra nuclear nível Índia-Paquistão? Categorizar pessoas com rótulos de “pobres favelados ignorantes” ou “riquinhos esnobes que merecem morrer”? Vamos elevar o nível, né?

Mas o que me fez mesmo levantar a cabeça da minha tumba foi a denúncia que eu recebi hoje de que a pessoa por trás do Shame já teve outros sites sensacionalistas nessa mesma linha. Ou seja, montar um anfiteatro romano 2.0 deve ser fórmula de sucesso e provavelmente essa pessoa vai explorar o negócio enquanto ele for rentável. Problema dela. Responsabilidade dela.

Só peço à tal da tia Shame que deixe de tentar socializar comigo no tuírer. Para entrar na minha le creuset, tem que ter cacife. E da próxima vez que alguém falar que essa senhora é minha sucessora ou foi inspirada em mim, um meteorito vai explodir um planeta Terra com 7 bilhões de seres indefesos.

Sabem Rainha Elizabeth? Sabem Karl Lagerfeld? Sabem Lulinha da Silva? Sabem, inclusive e apesar de tudo, John Galliano? Não se faz um bom sucessor do dia para a noite, não. Deixem a minha memória descansar em paz, por favor. :-)

Beijos, continuo me amando, suas lindezas.


livro de chanel na laje

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Caríssimos,

Finalmente, venho aqui deixar o link do arquivo com todos os posts do De Chanel na Laje reunidos. Não ficou a sétima maravilha do universo, mas dá para o gasto. :-)

E apenas usei o sagrado vocábulo “livro”, para não ter de escrever “arquivo com todos os posts do blog”. Vocês me entendem, né? Além do mais, tem cada coisa por aí sendo chamada de livro, que a gente considera que eu fui contaminada pelo mal deste século e pronto! :-P

Também aproveito para esclarecer que não vou fechar nem apagar o blog. Os comentários continuam abertos, porque eu continuo a recebê-los. No dia em que eu só receber spams, aí sim, fecharei os comentários. Por enquanto, fica como está.

O arquivo tem quase 20 megas, mas foi o máximo de compressão que consegui.

Uma última coisinha: estou com muitos emails acumulados, ainda não pude responder a todo mundo mundo, vocês entendem que ser it-brogueira tem dessas coisas, né? São tantos patrocinadores para atender e eventinhos e encontrinhos, que fica difícil dar atenção para os leitores. Ossos do ofício.

Brincadeira, gente, eu quero muito responder a todos os emails, mas, para variar, ando cheia de afazeres. Pouco a pouco, eu chego lá. Obrigada pelas mensagens incríveis que continuo recebendo, vocês não imaginam a minha alegria. :-)

Para baixar o “livro”, cliquem na imagem abaixo. Se algum tiver algum problema com o hosting, é só me avisar. Espero que gostem. Beijos!

 

festança na laje

Garotas e garotos da laje do meu Brasil varonil,

É com muito pesar que venho anunciar uma festança nesta ribombante laje onde muitas e muitas pedras já rolaram; uma festa de encerramento, com muita música, vinho, bom papo e gente boa, que essa coisa de ficar cultuando só “gente bonita e bem-vestida” a gente deixa para a caipirada zé-mané, né?

A explicação é muito simples, espero que me compreendam: fui inventar de fazer dois cursos e trabalhar ao mesmo tempo (crianças, não façam isso em casa sem a supervisão de um adulto), e a laje foi ficando empoeirada, esquinada, abandonada … eu tentei, mas não deu. Eu demorei a formalizar a iminência do fim, mas aqui estou cumprindo esta árdua tarefa, enfim.

Queria que vocês soubessem que, embora não tenha tido tempo de interagir como eu gostaria ou de estar à altura em alguns aspectos, eu leio com muito carinho e atenção todos os comentários, emails e depoimentos que recebo (o carinho se estende aos comentários e emails com broncas ou puxões de cabelo orelha também), e fico muito feliz com o balanço final deste blog que não chegará a cumprir sequer um mísero aninho de existência. Conheci muita gente legal disposta a debater idéias e a não levar tudo tão a sério sempre. Sem dúvida, essa foi a melhor recompensa que tive com este blog.

Também queria dizer que eu recebi algumas propostas deveras interessantes de pessoas que queriam colaborar com o De Chanel na Laje (muito legal, obrigada!), e pensei seriamente nessa idéia, mas eu não teria tempo para administrar nada relacionado ao blog, inclusive porque tenho uma mudança de país prevista para este ano. Ou seja, seria bem frustrante reformular um projeto e deixá-lo pelo caminho outra vez.

Para finalizar, suportem um inevitável momento-chorumela: obrigada! Obrigada mesmo, de coração, por todas as visitas, comentários, emails, tweets, depoimentos, links… obrigada pelo apoio ao blog, pelo apoio não às minhas idéias em si mas ao meu direito de expressá-las livremente, obrigada por terem me ouvido e por terem me dado um feedback tão estimulante apesar do meu anonimato, obrigada aos que divulgaram o blog aos amigos, aos que se ofereceram a colaborar com ele. Obrigada a todos, inclusive às meninas que entram com IPs do servidor da Daslu e começam suas mensagens com “olha só, querida” ou frases do tipo, hahaha!

Se alguém quiser falar comigo, vou manter o email do blog ativo e o twitter por enquanto também vai permancer vivo (uma coisa de cada vez, vai).

Abaixo, um post que escrevi quando o blog fez seis meses e acabei não publicando e outro post com uma entrevista que dei ao Jornal da Universidade de Santa Catarina, ambos com os comentários fechados para ficar tudo concentrado aqui, num lugar só.

Beijos a todos, foi um prazer conhecê-los!

De Chanel na Laje.

carta aberta aos meus inimigos e aos meus amigos

Assim como um bom samba é uma forma de oração, um blog é uma forma de expressão.

Seis meses se passaram desde que criei o De Chanel na Laje. Naquele momento, eu não imaginava que encontraria tanta gente disposta a interagir comigo e a trocar idéias de uma forma tão frutífera. Para ser sincera, eu pensei que o De Chanel na Laje seria um espaço virtual facilmente descartável por mim. No entanto, as coisas fluíram de uma forma diferente. E hoje eu fiquei com vontade de escrever uma carta aberta aos amigos e inimigos conquistados. Antes eu só tinha um compromisso comigo mesma: expressar-me. Agora eu sinto que tenho um compromisso com todos aqueles que visitam esta humilde laje todos os dias.

Um obrigada especial aos inimigos
–  Pérolas aos porcos –

Queridos inimigos,

Vocês são poucos, na verdade. Porém, essenciais. Como é unânime que toda unanimidade é burra, eu fico muito satisfeita em saber que não agrado a todos. Agradeço sinceramente, e escrevo isso sem o menor traço de ironia ou de frivolidade, que vocês dediquem o seu tempo – o bem mais caro e precioso que há – à leitura e à crítica deste blog. Geniosa que sou, aprendi na mais tenra infância que os inimigos são como as pimentas: na medida certa, temperam e esquentam; em excesso, queimam e fazem dano. Adoro quando vocês me detestam mas conseguem transcender o ódio em favor da argumentação e do debate de idéias. Ponto para vocês!

Eu queria que vocês soubessem que, efetivamente, muitas coisas que eu penso estão registradas neste blog, mas que nem tudo que eu penso está aqui, por razões mais que óbvias. Tirar conclusões é um exercício mental interessante, mas procurem sempre fundamentá-las se quiserem evitar os micos desnecessários. E, ah, evitem as precipitações e os julgamentos vazios.

Alguns de vocês já disseram que eu sou uma revoltada social. Sim, acertaram. O que eu não entendo é como alguém pode não ser um revoltado social vivendo no país com a 3ª maior desigualdade social do mundo (PNUD/2010). Bom, se você estiver direta ou indiretamente na mamata – política, agropecuária, empresarial ou de qualquer outra ordem – eu até te entendo, o que não me impede de te culpar. E, se você não é um revoltado social e está fora dos círculos corruptos do país, sinto muito pelo seu conformismo. É duro dizer isso, mas você merece o que tem. Inclusive, a possibilidade de morrer por uma bala perdida.

Ler em certo blog que uma leitora deixou de ir a um encontrinho promovido por blogueiras porque “não tinha roupa” e iria se sentir deslocada me partiu o coração, assim como ele ficou partido durante todo o tempo em que dois familiares e dois amigos estiveram em cativeiro, sequestrados. Ah, também me partiu o coração – e a dignidade – levar um cuspe no rosto, dado com prazer por um pivete cheirador de cola que via nos meus olhos e nos meus tênis as cores da sua repressão social. É, acho que o meu coração também ficou partido – aliás, ele quase deixou de funcionar – quando tive uma arma encostada na minha cabeça. Passa a bolsa ou estouro a tua cabeça, patricinha de merda!

Pois, sim, inimigos. Eu sou uma revoltada social. E muito provavelmente uma patricinha de merda aos olhos de muitos dos meus conterrâneos. É triste, mas é assim.

Vocês também dizem que eu sou intelectual. Acertaram outra vez. Sou mais intelectual que emocional, sem dúvidas. Assim como vocês têm nojo de quem exibe os seus livros e as suas resenhas na Internet, muitas pessoas sentem nojo de quem exibe as suas maquiagens e os seus tutoriais na Internet. Superem isso. Nem todo mundo tem os mesmos interesses. Algumas pessoas cultivam apenas o lado mental, outras apenas o físico, outras só cultivam a barriga de cerveja enquanto outras não cultivam nada. Algumas, como eu, dedicam 5 minutos do seu dia à preparação de uma maquiagem básica, porque a leve sombra nos seus olhos não as impede de ler. Sou bem-resolvida nesse sentido e não vou pedir desculpas por cultivar mais o cérebro que a aparência, assim como não vou pedir desculpas por comprar revistas de moda.

Algumas pessoas também chegaram à cabalística conclusão de que eu sou contra o consumo, de que eu sou contra roupas de marca e blábláblá. Para começar, sou declaradamente uma grande admiradora do capitalismo e faria uma fogueira globalizada com todas as camisetas do Che. Para terminar, eu não sou nem nunca serei contra os objetos em si. Apenas questiono determinados usos que as pessoas fazem deles e/ou certos valores que as pessoas atribuem a eles. Um exemplo? Acho os diamantes lindos, encantadores, sublimes, uma maravilha da natureza, mas execro com todas as minhas forças o seu comércio e sinto nojinho das pessoas que alimentam essa indústria (não se desculpe pelo seu anel, cada um na sua). Sou a favor do consumo, sim. Quanto mais ético e consciente ele for, melhor. E, sim, eu gosto de fazer piadas sobre o mundinho do gramour paraguaio e do deslumbramento que ele causa em muitos desmiolados. Tirem as suas conclusões.

Para finalizar, vocês dizem que eu sou a favor da democratização da moda mas fico irritada quando alguma coisa vira modinha. Sim, eu sou a favor da democratização da moda, e lamento que no nosso país a moda seja privilégio de poucos e a população ande tão francamente mal-vestida (o que é irrisório se lembrarmos que boa parte da população esteja, também, mal-alimentada, mal-alojada e mal-educada). Agora, não pensem que eu fico irritada com a massificação de certas modinhas, porque eu, ao contrário de alguns de vocês, sei que existe um processo cíclico por trás da criação das tendências – e não me refiro apenas às tendências do mundinho fashion – e ele é muito simples: 99% das modinhas nascem, crescem, se massificam, enjoam, morrem. O ponto do nascimento e o do enjôo talvez sejam os que mais me interessam, mas saibam que a teoria não foi inventada por mim. Se quiserem pedir satisfações a alguém, a Rive Gauche talvez seja o lugar mais indicado. Paris é o lugar, car@s bloguetes, e não uma laje virtual.

Obrigada pela atenção dispensada, sem mais.

O maior agradecimento do mundo aos meus amigos
–  Injeção de ânimo à minha vida virtual –

Queridos amigos,

Em primeiro lugar, gostaria de dizer que não considero amigas apenas as pessoas que concordam comigo, ou as que se manifestam de uma maneira ou de outra. Considero amigas todas as pessoas que me visitam e que não se incomodam com a existência deste blog. Pessoas que lêem o que escrevo e que respeitam as minhas opiniões, concordando ou não com elas.  Algo louvável e grandioso, especialmente nesta época de fascismos internéticos e de concepções antidemocráticas.

Para ser sincera, as estatísticas não me importam, mas eu reconheço que fico muito feliz ao ver que tanta gente passa por aqui. Se eu quisesse escrever por escrever ou se a minha intenção fosse encontrar um eco no nada, eu guardaria os meus textos num arquivo .doc com senha. A Internet é tão vasta! Poder cultivar um espaço de troca de idéias e de debates civilizados não tem preço. E esse espaço só existe graças a vocês.

As visitas, os comentários, os emails, os tweets, os links para cá, as recomendações para os amigos: agradeço, de coração, por tudo isso. Não me importo se serei taxada de piegas, mas esse feedback anima, e muito!

O que mais me impressiona é a qualidade dos comentários de vocês. Na maioria das vezes, surgem algumas discussões tão interessantes na caixa de comentários, que eu sinto até uma vontade de reescrever o post que deu o pontapé no debate. Confesso que muitas vezes senti vontade de publicar certos comentários incríveis e eloquentes. Inclusive, pensei em montar um post periódico com trechos de comentários espetaculares. Não é à toa que muitos leitores escrevem que amam as caixas de comentários deste blog. Eu também amo.

Também gostaria de dar um agradecimento especial a todas as pessoas que me mandam relatos para a parte de depoimentos do blog e às que simplesmente desafam comigo. Saibam que eu valorizo muito a confiança de vocês em mim. E às pessoas que gentilmente me mandaram sugestões de temas, eu gostaria de dizer que tenho a intenção de escrever sobre todos eles. Aproveito para pedir desculpas pela demora…

Outra coisa que me deixa excepcionalmente feliz é constatar que este blog virou um canal no que muitas pessoas encontraram/encontram outras com quem se identificam. Muitas pessoas se conheceram nas caixas de comentários e hoje são amigas. Encontrar pessoas com os mesmos interesses e questionamentos, encontrar pessoas interessadas em trocar idéias ou simplesmente encontrar pessoas dispostas a ouvir os nossos desabafos são coisas que não têm preço.

Não tenho muito mais que acrescentar. Nós, amigos, nos entendemos com poucas palavras.

Espero que eu tenha sido capaz de transmitir o quanto este blog foi/é um injeção de ânimo na minha vida virtual.

Um grande beijo,

De Chanel na Laje.

entrevista Jornal da USC

Nome, idade, formação. (Complementares: Cidade/Estado, e seu manequim ex: veste 40).

Sou conhecida como “De Chanel”, tenho 27 anos e sou do RJ. Me formei – e sigo me formando – nas seguintes áreas: Lingüística, Relações Internacionais, Antropologia e Publicidade.

Por que resolveu escrever sobre moda?

De Chanel na Laje é um blog que fala, basicamente, de consumo. A idéia é compartilhar os meus pensamentos e opiniões, e convidar os leitores a debaterem vários assuntos de interesse para quem gosta de moda e está atento a temas comportamentais variados. Tento fugir do óbvio, afinal, nada é inquestionável e problematizar é preciso. Gostar de moda não significa criar uma religião em torno disso, engolir tudo sem processar, seguir qualquer tendência.

De onde veio esse “humor cítrico” que você utiliza no blog?

Sempre tive esse humor ácido e me divirto com ele. No blog procuro escrever textos bem-humorados porque considero que não dá para levar tudo tão a sério sempre. E eu deixo bem claro aos meus visitantes: “levar este blog muito a sério pode ser prejudicial à sua saúde. Levá-lo pouco a sério também. Você escolhe.”

Por que “De chanel na laje”?

Algumas pessoas vêem conotações marxistas no nome, pois acham que estou me referindo à luta de classes, enquanto outras acham que eu estou rindo de quem se veste bem mas mora mal. Não pensei em nada disso; esse foi o primeiro nome que me veio à cabeça e achei bem divertido. De Chanel na laje, porque a gente gosta de “gramour”, né?

Há quanto tempo você bloga? Já teve outros blogs? Quais?

Escrevo em blogs há alguns anos. Já tive outros blogs, sim, embora atualmente apenas mantenha o De Chanel na Laje e um blog pessoal, com acesso restrito a pessoas convidados por mim.

O que você acha dessa “ditadura da beleza”? A mídia ajuda a reforçá-la?

Como eu sempre digo no blog, sou a favor do culto à diversidade e à heterogeneidade. Vivemos numa era de encontros e intercâmbios entre diversos povos e culturas, então é lógico que qualquer padrão pré-definido que se exalte e se idolatre tem um caráter limitador e limitante. Por outro lado, percebo muita hipocrisia – e certo oportunismo – quando as pessoas que trabalham no meio tentam “combater” essa ditadura. Todas as sociedades têm – e sempre tiveram – o seu padrão de beleza, isso é inegável. Porém, nesse momento de globalização cultural, temos dois caminhos: podemos seguir homogeneizando o padrão de beleza ou podemos começar a valorizar de uma vez por todas a diversidade, como uma característica primordial dessa nova era. Para isso, precisamos trabalhar o nosso olhar, procurar a beleza a partir de novos ângulos, revolucionar alguns conceitos estéticos, sair da mesmice, ousar, arriscar.

Atualmente, qual é o cenário que você vê nos blogs de moda?

Acho que chegamos a um ponto de saturação, pois há muitos blogs iguais e com conteúdo repetido – e repetitivo – por aí. Muitas pessoas que têm blogs como um hobby estão trabalhando de graça para as marcas e não percebem isso. Mesmo assim, sou otimista. Acho que os blogs são uma excelente ferramenta para que muitas pessoas com algo realmente interessante a dizer encontrem o seu espaço e se dêem a conhecer. Pelos debates gerados sobre esse assunto no blog – num post que rendeu quase 800 comentários e que já faz parte dos corpora de no mínimo 3 pesquisas acadêmicas -, deu para perceber que há demanda para blogs com as mais variadas propostas e características. A chave para que tenhamos uma blogosfera brasileira de moda realmente fértil e potente está na diversidade de propostas e na originalidade do conteúdo.

Gostaria de saber sua opinião sobre o mercado e a indústria da moda brasileira.

Sinceramente, acho que ainda temos um longo caminho a percorrer para que a nossa indústria da moda seja realmente competitiva e aporte produtos verdadeiramente diferenciados no mercado internacional. Falta buscar respostas dentro de casa e não fora como sempre se fez. E buscar respostas dentro não significa necessariamente fazer o óbvio, o caricaturesco e o estereotípico. Existe muita gente boa e talentosa no Brasil, mas acho que falta um mercado fértil, aberto e competitivo para que essas pessoas possam desenvolver o seu trabalho e se destacar como merecem no mundo da moda. Na minha opinião, ainda falta muito para que a moda seja verdadeiramente democratizada no Brasil.

Quais outros blogs de moda você lê e indica?

Desde que criei o De Chanel na laje, tive a oportunidade de conhecer tantos blogs – eu nem imaginava que havia tantos blogs de moda no Brasil! -, que fica difícil indicar algum em especial. O que sempre indico é um grupo do Flickr chamado “What I wore today”. Várias pessoas fazem ilustrações incríveis dos seus visuais diários, é muito divertido acompanhar o grupo.O link é: http://www.flickr.com/groups/whatiworetodaydrawings/pool/

E se quiser, fique à vontade para fazer considerações sobre outros assuntos relacionados à moda e tal, é algo bem livre mesmo, priorizamos muito a opinião e a expressão dos entrevistados.

Gostaria de agradecer o convite à entrevista e convido todos os leitores do Jornal da USC a darem uma passadinha na minha laje virtual, onde todas as opiniões são valorizadas e bem-vindas. O endereço do blog é: https://dechanelnalaje.wordpress.com e o meu email é dechanelnalaje@gmail.com. Também estou no twitter: @dechanelnalaje. Obrigada!

 

faculdade de moda: meus dois centavos

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Tardei, quase falhei, mas cá estou. :-)

Desde o começo do blog, recebo alguns emails de pessoas interessadas em trabalhar no mundo da moda que gostariam de saber a minha opinião sobre essa faculdade. Então, decidi publicar a minha opinião aqui.

Antes de qualquer coisa, esclareço que eu não estudei moda; portanto, a minha opinião é, digamos assim, a de uma outsider.

Vamos lá, de forma direta e objetiva, eu não acho que cursar faculdade de moda seja lá um grande negócio, nem em termos acadêmicos nem em termos profissionais.

Academicamente, é o tipo de curso relativamente novo, com pouca tradição. Basta olharmos os grandes teóricos da moda; praticamente nenhum fez faculdade de moda, certo? Ainda assim, a minha maior crítica se refere à formação humanística do curso. Se pensarmos na bagagem humanística ideal e desejável para um profissional da área, podemos ver que o curso de moda é extremamente fraco nesse sentido.

Então, o que posso dizer às pessoas que têm interesse numa formação direcionada para o mundo da moda é que me parece bem mais interessante que vocês cursem uma faculdade mais tradicional e que depois se especializem na área. E essa faculdade tradicional tanto pode ser de caráter humanístico como de caráter técnico. Outro ponto importante a se considerar: a estrutura curricular de uma faculdade de moda não é nem suficientemente humanística nem suficientemente técnica.

Uma pequena observação: eu já vivi os dois lados da moeda, fiz um curso com séculos de tradição acadêmica e um curso “novo”, ambos da área de Humanas, e posso opinar sem a menor dúvida que, em termos de solidez na formação e de rigor acadêmico, uma faculdade tradicional sempre se apresenta como a melhor opção.

Tudo isso que falei até agora foi baseado nos aspectos acadêmicos do curso. Agora, pensemos no mundo profissional. Pouquíssimos dos grandes estilistas, por exemplo, fizeram faculdade de moda. Mas isso não vem tanto ao caso. O que importa é que o mercado de trabalho cada vez valoriza mais e mais e mais os perfis transversais. Ou seja, uma pessoa que sabe muito de uma coisa só e pouco ou quase nada de todo o resto é coisa do passado. Hoje o que interessa é o caráter multidisciplinar da formação e da experiência dos profissionais. Um pequeno exemplo:

1) Faculdade de moda + pós em moda + mil cursos em moda.
2) Faculdade de arquitetura + pós em moda + mil cursos de estilismo.
3) Faculdade de belas artes + pós em moda + mil cursos de estilismo.
4) Faculdade de sociologia + pós em moda + mil cursos de mercado e de história da moda.
5) Faculdade de história + pós em moda + mil cursos de mercado e de história da moda.

Qual é o perfil mais interessante nesse caso? Na minha opinião, o menos interessante é o 1, e é óbvio que eu não desmereço ninguém que tenha percorrido esse caminho. Apenas penso no caso dos que vão fazer vestibular e que partem do princípio de que para trabalhar com moda é preciso fazer faculdade de moda. Isso nunca foi assim e segue sem ser.

Eu fiz um pequeno passeio pelos curricula do pessoal da Zara, já que se trata de uma empresa que contrata muita gente, e comprovei que o perfil 1 é a exceção. A maioria dos profissionais tem formação multidisciplinar. Aliás, existe muito mais homogeneidade nos cursos de pós que nos cursos de graduação. Afinal, qualquer graduado com certa aptidão pode se especializar em moda, e as boas escolas internacionais de pós são mais que conhecidas, né?

Estas seriam as considerações que eu faria ao meu filho – caso tivesse um – se ele quisesse estudar moda (#mammafeelings, hahaha!). Lógico que cada um deve estudar aquilo que bem entender, mas fazer um plano de formação a curto/médio/longo prazo e ampliar um pouco o leque de possibilidades são coisas que sempre ajudam.

Fora isso, desnecessário ressaltar para qualquer pessoa que tenha interesse em trabalhar na área que, para conseguir um lugar ao sol no mercado da moda, é obrigatório saber inglês, né? Vale lembrar que francês e italiano continuam sendo idiomas altamente valorizados no meio. E que qualquer conhecimento técnico ajuda a ter uma visão mais ampla e orgânica do setor; mesmo que você não vá trabalhar diretamente com determinadas coisas, sempre é bom correr atrás de conhecimentos de desenho, corte, costura, computação gráfica, maquiagem, fotografia, etc. :-)