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Sei que a notícia já é meio velha em termos internéticos, mas eu confesso que apenas hoje tive coragem de comprovar a veracidade desse boato. Sim, porque só a leve, sutil e vaga hipótese da possível existência de uma birkin de moletom já me causava uma repugnância tão imensa, que eu achava melhor ir meditar e ouvir mantras para relaxar e transcender do que ir ao banheiro para liberar litros de vômito verde fluorescente.

Eu realmente gostaria que alguma alma caridosa deixasse um comentário me dizendo que:

1) de fato esse lixo é uma ilusão de ótica
2) a tal bolsa não passa de uma estratégia para queimar ainda mais o filme da Daslu (se é que isso é possível)
3) isso foi mais uma pegadinha do Faustão
4) o Grupo Lacoste já botou os responsáveis pela palhaçada atrás das grades
5)
os donos da “marca” já pegaram um avião para o Sudão e só voltarão quando todo mundo tiver esquecido o mico (e eu não vou esquecer, já aviso)
6) todas as bolsas foram queimadas para ajudar a poluir um pouco mais o planeta

Que a Daslu é reduto de contrabandistas, muambeiros, mafiosos, alienados, bicheiros, trambiqueiros, políticos, barbies sem célebro, sonegadores de impostos e outras espécies asquerosas que representam o pior da fauna e da flora brasileira, já estamos carecas de saber. Uma birkin fake e de moletom não poderia cagalhofar mais ainda o lamentável quadro, mas brilha perfeitamente como uma suculenta cereja nesse bolo podre, azedo e cheio de fungos!

Para quem não sabe, esse objeto horroroso e esteticamente grosseiro está sendo fabricada pela marca 284, “criada pela terceira geração da Daslu”. Acabo de dar gargalhadas homéricas ao ler no site deles que a marca se dirige “ao público jovem urbano que busca atitude, personalidade e versatilidade em tudo que faz e usa”. Eu não sei que definição o dicionário que eles usam – se é que já consultaram algum, claro – deve dar aos termos atitude e personalidade, né? Porque se ter atitude e personalidade passa por usar produtos fabricados de forma ilegal, mal e porcamente falsificados,  sem citar que são cafonas, horrendos, de mau gosto e provavelmente fedorentos, eu prefiro que me classifiquem como alguém totalmente sem atitude e personalidade, por favor. A direção agradece.

Ah, um pequeno adendo: a bolsa faz parte da singular e criativíssima coleção “I’m not the original”. Ui, que título original. Tão original, que até dói.

Também podemos ler no site que “suas diversas linhas de produtos vão apresentar novidades para os consumidores em uma frequência inédita no mercado brasileiro”. É, esse povo tem graves problemas com o vocabulário lusitano, poque novidades e inédito são algumas das palavras que eles jamais poderiam aplicar a esse bando de réplicas vulgares e baratas que eles estão escarrando fazendo.

E o pior é que os fofoletes ainda acham que podem cobrar R$349,00 por esse lixo de bolsa. Tudo bem que a nossa moeda não vale muito no mercado internacional de divisas, mas isso já é ignorar qualquer referência lógica de preços. Quase um salário mínimo por uma bolsa de moletom com bordinhas desfiadas? Tenham santa paciência, meus sais!

Eu sempre achei que ninguém precisa de uma birkin para ser feliz. Agora, para descrever o que eu acho dessa bolsa birkin falsa de moletom, me faltam as palavras adequadas. Esse tipo de coisa me faz perder a fé na humanidade. Me faz perder a esperança de que o Brasil um dia vai poder ser um lugar realmente digno e decente para viver, sem balas perdidas, sem carros blindados, sem empresários e políticos corruptos e sem tanta injustiça social.

O nojo é tanto que eu me sinto pior que a barata da Metamorfose. Enquanto esses filhinhos de papai retardados continuam desrespeitando tudo – dos consumidores ao mercado, dos bens públicos à Receita Federal, da sanidade empresarial à prática de preços justos – sou eu a que tenho que tenho de encher os muros da minha casa de vidro cortante e gastar rios de dinheiro em alarmes.

Enquanto esses oportunistas não levam a atividade empresarial a sério, e adotam esse tipo de práticas que causam aversão, enquanto essa gente não trabalha duro para criar coisas originais, gerando riqueza e empregos, sou eu a que tenho de lidar com gente que não sabe nem escrever direito e com crianças que me pedem esmolas. E com a escassez de livrarias no país. E com gente que não cede o banco a idosos e a grávidas.

Enquanto algumas amebas retardadas – privilegiadas por terem mais dinheiro que a média – divulgam e compram esse tipo de produto, outros furam fila e escarram no chão. Ao mesmo tempo, alguma alienadinha comemora por não ter que pagar os impostos por um produto que comprou na internet em vez de exigir uma reforma tributária no país. Eu pergunto: qual o futuro de um país com jovens empresários dessa estirpe? O que podemos esperar de um país no que os consumidores que poderiam atuar como formadores de opinião – contando com todas as ferramentas que lhes permitem exigir mais qualidade – aprovam e sustentam esse tipo de comércio?

E não me chamem de louca por ver um produto tosco desses e não pensar no futuro do país e em questões políticas e sociais que me afetam – e me ferram – diretamente. Está tudo interligado, meus caros. Nessas horas eu juro que sinto vergonha de ser brasileira.

E se alguém me chamar de invejosa porque não compro na Daslu vai amanhecer com a boca cheia de sarna. Porque hoje eu não estou pacífica e tolerante, não.

Ah, se alguém me disser que eu estou promovendo a bolsa porque “qualquer publicidade é boa publicidade” também.

Felizmente, as pessoas que têm lido este blog são mais inteligentes, críticas e sensíveis do que eu, e portanto devem entender perfeitamente o que eu estou sentindo.

Pequenas atualizações:

Acabei de receber um email muito interessante de uma advogada que prefere não se identificar, mas que me recomendou fortemente que compartilhasse a informação com vocês: efetivamente, a Hermès tem os direitos de propriedade sobre o modelo Birkin. Isso significa que qualquer empresa que fabrique bolsas que reproduzam as características e medidas registradas é, tecnicamente, passível de ser processada e condenada por fraude, mesmo que não use o nome ou qualquer símbolo da marca. É, tem gente brincando com fogo, meus caros. Pena que provavelmente a Hermès não vá se meter com uns meros tupiniquins de má fama que estão se dando ao trabalho de fabricar bolsas torpes de moletom… afinal, isso queima muito mais o filme de quem fabrica e usa do que da própria Hermès.  E tampouco representa concorrência para a marca, afinal, quem pode se dar ao luxo de ter uma Birkin de verdade não vai escorregar na banana comprando uma de moletão, néam?

Também acabo de ser informada que a lista de espera para a bolsa de moletom é enorme. Meo Deos.