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Na caixa de comentários do post sobre os elevadíssimos e trucidantes impostos de importação cobrados no Brasil, muitas pessoas questionaram a razão dessa suposta nova febre pós-moderna por esmaltes. Justamente dois dias antes, a minha mãe me havia perguntado sobre “essa histeria coletiva por esmaltes”; ela me disse que as mulheres estão comprando esmaltes como loucas, e que a histeria era mais ou menos como a obsessão dos russos pelas calças da levi’s e pelos tênis da nike quando o comunismo agonizava lentamente. Ela também me falou que as cores “exóticas” continuam em alta, vendendo loucamente.

Há uns anos, uma pessoa com uma coleção de mais de dez esmaltes, provavelmente seria uma manicure, né? Ou, no mínimo, uma daquelas usuárias mais avançadas, do tipo que fazia a unha das amigas. Agora não. Eu fico de queixos caídos com as fotos das coleções de esmaltes que as garotas publicam por aí. Fórmulas de misturinhas, cores do momento, troca-troca de vidrinhos, blogs, programas na tv, listas de espera, sorteios, filas nas portas das drogarias, matérias em revistas, enfim, trata-se de um verdadeiro frenesi.

Num primeiro momento, eu respondi à minha mãe que isso devia ser efeito dos blogs. Só que depois eu pensei bem, e fiquei naquela dúvida do tipo “o ovo ou a galinha?”. Será que a internet aumentou essa febre pelos esmaltes ou essa febre pelos esmaltes só está na internet porque sempre existiu? Ou será que a coisa foi tipo um vírus mesmo, que estava ali dormindo, e de repente teve a chance de se manifestar, causando uma verdadeira epidemia?

Se eu tivesse que inventar uma resposta mais racional e convincente para explicar o fenômeno, eu diria que essa compulsão esmaltística se deve ao fato de que os esmaltes são baratos. No Brasil, por exemplo, há várias marcas boas com preços bem camaradas; logo, trata-se de um produto acessível que permite que se dê vazão aos loucos e desenfreados impulsos consumistas com um efeito colateral de peso na consciência bem sutil.

Impulsos consumistas que, por sinal, não podem ser direcionados aos produtos de maquiagem, por exemplo, num país onde um Boticário da vida se sente no direito de cobrar por um rímel o mesmo preço internacional de um da Lancôme. Tá, eu sei que muita gente deve adorar os rímeis do Boticário, mas, convenhamos que um mercado fechado e protecionista como o brasileiro acaba sendo monopolizado por três ou quatro marcas, no máximo, que cobram os preços que bem querem e bem entendem. É a lógica do mercado. Paga quem quer e quem pode, né? Já sei, já sei. Quem não pode que se limite a lamentar em silêncio, né? Já sei, já sei. Só que na minha opinião, maquiagens e produtos cosméticos de forma geral são caríssimos no Brasil, e, quando são baratos, são de péssima qualidade. Já sei que a Vult pode ter uma sombra legalzinha e que a Elke lançou uns batons com cores espetaculares, mas as exceções apenas confirmam as regras, não nos esqueçamos. Por outro lado, os esmaltes, sim, são bons e baratos.

Então, de todos os itens de “beauté”, como muitas diriam, os mais acessíveis são os esmaltes mesmo. E muita gente deve ter descoberto que, em vez de pagar R$15 (em média) à manicure, vale muito mais a pena aprender a fazer a unha sozinho e comprar um vidrinho de esmalte por semana e, assim, nunca repetir a cor. Sei lá, são divagações. Essa lógica, obviamente, não se aplica a uma pessoa hiperdestra como eu. Sou destra de perna, de mão, de olho, de ouvido e de cérebro, e, portanto, só consigo pintar uma mão. Não rola, né? Isso significa que eu devo ter comprado, no máximo, cinco vidros de esmalte em toda a vida. Esmaltes que, por sinal, eu sempre acabei dando para as manicures.

Outra hipótese que talvez explique o fenômeno sejam as estratégias de marketing bem-sucedidas das marcas de esmaltes. Não sei…

Meninas especialistas no ofício esmalteiro, alguma explicação diferente? É um fenômeno de massas ou isso sempre foi assim? Podemos falar de febre? Seria o esmalte o novo ópio do povo?