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Descobri esse negócio de mulher-fruta há relativamente pouco tempo. Reconheço que eu ficava viajando quando ouvia esse termo. Pensava que se referia a “mulheres que, tal qual as laranjas, se comem e se jogam os bagaços fora”. Ficava revoltada com o caráter machista e provinciano da expressão, e com mais raiva ainda das próprias mulheres que usavam, cheias de malícia, o termo. Ê, mente poluída!

Porém, eu me justifico: como eu sempre lia esse termo em blogs, com um tom muito pejorativo, naturalmente acabei deduzindo isso. Mesmo assim, curiosa que sou, lá fui eu pesquisar o que significava. Encontrei o termo na wikipédia e uma pequena crônica numa das páginas da Academia Brasileira de Letras (num tom bem machista e citando teorias da psicologia evolucionista, que eu abomino, então nem vou linkar).

Eu não vou discutir esses fenômenos populares, nem se essas mulheres são vulgares, nojentas, um retrocesso no processo da emancipação feminina, ou não. Afinal, quem se importa com a minha opinião? Apenas gostaria de fazer uma pequena consideração: tecnicamente, uma mulher-fruta nada mais é do que uma mulher que ganha dinheiro exibindo o corpitcho e/ou rebolando o popozão, certo?

Você pode achar isso normal ou pode achar um absurdo, certo? Você pode dizer que, se tivesse a mesma chance que essas mulheres, também exibiria as suas carnes, ou que não faria o mesmo nem que lhe pagassem 24 bilhões de euros, certo? Você pode achar que essas mulheres são mais um reflexo da sociedade misógina ou que elas representam uma consequência natural da liberação feminina. Você pode ter a sua opinião sobre o assunto, pode achar ridículo ou pode achar o máximo. Imagino que todos aqui concordem comigo quanto a isso.

E agora vem o meu questionamento: se você acha a existência dessas mulheres-fruta brasileiras o fim da picada, um horror, uma aberração deprimente, a maior expressão da vulgaridade humana, uma coisa que incomoda, que dá náuseas, algo que te faz questionar, inclusive, se você vai comprar aquela Chanel 2.55 agora que a Waleska Popozuda tem uma, ou se vai pintar a unha da cor tal agora que a Mulher-Amora está usando o mesmo esmalte, por que você vive usando as mulheres-fruta gringas como referências de estilo, de bom gosto, de tendências, de moda?

Tirem qualquer conotação nacionalista do meu questionamento. O que eu estou criticando, em essência, é essa falta de coerência nos valores. Afinal, se a Mulher-Goiaba me dá dor só de olhar, não tem sentido que eu ache a Fergie a última coca-cola do deserto, néam?

A regra dominante parece ser esta: em mulher-fruta brasileira eu meto o pau; para mulher-fruta gringa eu pago pau. Oi? Seriam reflexos dessa mentalidade pequeno-burguesa e acomplexada do típico brasileiro que tem o código de valores totalmente colonizado?

As únicas diferenças que vejo entre elas são as seguintes: enquanto as mulheres-fruta brasucas ganham em reais, as mulheres-fruta estadunidenses (por exemplo) ganham em dólares. Enquanto as primeiras vivem num país onde a moda não está nada democratizada, e, para importar, os cidadãos acabam pagando quase 100% do valor do produto em impostos, as segundas moram em lugares onde há uma Gucci em cada esquina. E ainda ganham presentchinhos das grandes marcas. As brasileiras têm fãs locais e as gringas têm fãs globais. Mas, para mim, são mulheres-frutas do mesmo jeito.

E eu não nasci para babar ovo de mulher-fruta nenhuma, né? Tenho mais o que fazer. E no dia em que eu estiver a fim de buscar referências de estilo, vou passar os meus olhinhos bem longe delas. De todas elas. Simples assim. Beijos!